Daniel Goleman, em seu clássico livro “Inteligência Emocional”, já se questionava em 1995: Como podemos levar inteligência às nossas emoções, civilidade às nossas ruas e envolvimento à nossa vida comunitária e ao nosso trabalho?
Excelente questão, não é mesmo?
Trabalhando no universo da gastronomia e acompanhando de perto muitas cozinhas e áreas de produção de alimentos, tenho pensado e me questionado bastante à esse respeito. As chamadas hard skills, competências técnicas, habilidades que podem ser aprendidas e ensinadas através de cursos, treinamentos, são basicamente as aptidões técnicas de um profissional. Constam em seus Curriculum Vitae. Como uma “treinadora oficial” de pessoas, acredito que deveres e afazeres podem ser aprendidos, e inclusive que podem se tornar um hábito pela repetição e constância de ensinamentos.
Já as chamadas soft skills, ao contrário, são tanto mais difíceis de quantificar quanto de reconhecer. São habilidades comportamentais, e abrangem as estratégias que devem ser desenvolvidas por quem trabalha sob pressão, como por exemplo numa cozinha profissional. A comunicação assertiva, a capacidade de trabalhar em equipe, um certo senso de liderança, atitudes de empatia, positividade e ética no trabalho são mais difíceis de adquirir. É mais comportamental do que técnica.
Pensando no elevado turn over de profissionais nas cozinhas e produções, desenvolvi a algum tempo, um Projeto Social, baseado especialmente no treinamento e capacitação pessoal destes profissionais. Além de técnicas de cozinhas, ensinadas por parceiros competentes em diferentes áreas, atuam também psicóloga, especialista em gestão de pessoas e outros profissionais que são convidados a levar para essas turmas as suas experiências e ensinamentos na área profissional, emocional e comportamental.
O projeto intitulado Cozinha & Saber, propõe uma convivência durante 2 meses, de um grupo de pessoas que buscam capacitação para trabalhar com alimentos. Meu objetivo é formar pessoas para a prática profissional, que saibam lidar melhor com suas emoções, com a pressão, que desenvolvam empatia pelos colegas de trabalho e habilidades de comunicação.
Esses são requisitos necessários para quem pretende trabalhar na área. Após duas turmas formadas, e da minha experiência em diversos estabelecimentos com diversificadas equipes de colaboradores, sou convicta que o que devemos aperfeiçoar são as virtudes pessoais, pois não há como construir um bom profissional sem a reflexão, sem os valores chamados pelos especialistas como “soft skills”, que eu denomino virtudes pessoais. Termino dizendo que estes profissionais existem, mas demandam investimentos no seu desenvolvimento, treinamentos continuados e adequada remuneração.
Vamos em frente! Acreditando no desenvolvimento pessoal, sempre!